quinta-feira, 10 de novembro de 2005

WORKSHOP: PROCESSOS DE CRIAÇÃO NA ARTE E NA MODA - Alimento


















Fotografia - Leonora Fink


Centro Universitário Senac – Campus Santo Amaro
Work Shop profª Fanny Feigenson


1. Lembrar de algum alimento: doce, salgado, fruta, amargo, etc. Alimento marcado por uma experiência boa ou ruim.

Texto escrito em aula.

exercício 1:

Venho de família italiana misturada com alemã. A parte italiana, tanto de pai quanto de mãe, foi sempre mais presente, mais determinante. Há uma série de alimentos que me fazem lembrar e reviver emoções até hoje. Desde as grandes viagens que fazia quando criança a Curitiba, quando ficava hospedada na casa de minha avó, no bairro chamado Portão e das idas à casa dos bisavós, que reuniam a família toda durante o mês de dezembro na cidade, reuniões e encontros que tinham seu ponto máximo com a ceia e o almoço de Natal, no salão de festas da casa na rua Dr Pedrosa.

Durante as festas, as mulheres se ocupavam de almoços e jantares, lanches, numa espécie de cooperativa muito interessante, pelo menos para mim, que estava de fora e só aproveitava e me deliciava na hora da mesa. Eram refeições variadas, desde o arroz com feijão, à macarronada dos dias normais, às ambrosias, empadões de palmito, frango, camarão, bolos de nozes, avelãs, frutas, ao bolo de leite de todas as tardes, macarrão fresco, pães. Havia os proibidos: vinhos, licores, cervejas, champagnes, uísques, escolhidos pelos homens para brindar às refeições.
Esta é a parte boa, de comunhão mesmo, no sentido maior da palavra. Hoje sei que para que aquilo acontecesse, muitas outras coisas tinham que ser feitas, muitos problemas surgiam e eram resolvidos, outros talvez ficassem para o ano seguinte. De todo jeito, para os adultos envolvidos naquelas festas, a vida era de trabalho, compras, 13º salário, filhos, pais, sogros, irmãos, tudo embrulhado num belo pacotão com fitas e cartão, a família ia e se encontrava, comemorava, ponto. Quem não pudesse ir em um ano, iria no próximo.
Lembro de muita coisa dos Natais, adorava aquelas festas de família.
Posso representar estas lembranças por um só alimento: mesmo único, é sempre múltiplo, impossível de contar por unidades. Mergulhados em denso e perfumado molho vermelho, se postos mais próximo, no prato, por exemplo, aparecem muitos elementos coloridos: verdes, marrons, amarelos vermelhos escuros, laranjas, brancos.
Perfumes, vapores, cores, calores.
Sabores... muito bons.
Desde o capeleti, tudo era feito em casa: massa, recheios, molho.
Entre as brincadeiras entravamos para olhar.
Sobre a mesa aquele pó branco todo salpicado de macarrõezinhos recheados dobradinhos todos quase iguais. Perfumados. Dobrados cheios de recheios.
_ Por que têm que ficar aqui?
Perguntávamos quando ainda não sabíamos, tinham que secar.
Depois iriam, à maneira dos Bartolomei, para a vasta panela cheia do molho fumegante e cheiroso, manjericão...e outros segredos de família, que não poderia revelar aqui, senão já não seria um macarrão tão especial. Cozinhavam devagar, sem quase mexer, para manter todos intactos. Começavam a cozinhar para o almoço, lá pelas 6h da manhã. Isso depois de passar a noite da ceia em claro, entre brincadeiras, Papai Noel, conversas, risos, cansaço e sono.
O cheiro do café fresco se misturava ao do molho denso.
A melhor hora era a de ir para a mesa. Comer, ouvir as conversas, falar com os irmãos e primos, pensar nos brinquedos e na alegria da noite anterior.A felicidade era estar ali com as pessoas a quem amávamos tanto e que tínhamos certeza que também nos amavam.
Saboreávamos tudo.

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