sábado, 27 de setembro de 2008

Informação, Linguagem, Comunicação livro de Decio Pignatari

Sobre a universidade e a pesquisa, trecho do livro escrito por Decio Pignatari, que se refere à universidade dos longínquos anos de 1970.


PIGNATARI, Décio. Informação, Linguagem, Comunicação. São Paulo: Editora Perspectiva, 1973. pg 87-88

" O processo pelo qual a elite julga levar a cultura às massas implica numa triagem da informação, e esta pré-seleção envolve, em maior ou menor grau, uma orientação ideológica, se quiserem. Nos países de sólidas tradições culturais, de elites de repertório elevado - incluindo superelites, produtoras de informações originais - esta operação pode conduzir a resultados parciais bastante positivos. Mas em países como o nosso, onde as elites possuem um repertório relativamente baixo - a ponto de obstacularem, por todos os modos, a verdadeira pesquisa, ou seja, as tentativas de criação de informações originais (pesquisa alta como a chamava Oswald) - a informação importada vem viciada por dois lados: é mal "traduzida" e, o que é pior, mal selecionada: a elite cultural brasileira não consegue reconhecer e muito menos participar de informações originais, isto é, de primeira mão, seu repertório só lhes permite importar informações de segunda e terceira mãos. Isto significa que ela sofre o mesmo processo pelo qual pretende levar a cultura às massas. Basta observar o que se passa com as nossas universidades. Os setores mais reacionários do ensino brasileiro vivem a proclamar que a universidade é feita "para ensinar" e não para pesquisar...Mas é o pensamento bruto, criador de conceitos, que, testando continuamente o edifício dos conhecimentos adquiridos e legitimados, faz avançar a ciência - observa Abraham Moles. [...] A peculiaridade de nossas universidades - no campo das ciências humanas, particularmente - é que elas não são universais, nem mesmo nacionais; e em alguns casos, não ultrapassam sequer o âmbito metropolitano, quando ignoram ou fingem ignorar realizações pioneiras extramuros .

[...] O repertório amplo reduz a audiência, o repertório reduzido amplia a audiência. [...] Na publicidade, na televisão, nas revistas de fotonovelas, vigora o mesmo primado da redundância. Mas o mercado de consumo...consome, e exige sempre novidades: os veículos não podem proceder como as universidades, que se dão ao luxo de limitar seu mercado (no Brasil particularmente); daí que, contraditoriamente, são eles obrigados a, ao lado da redundância, promoverem também a experimentação, na qual o público toma parte intensamente, comprando ou não comprando, fazendo subir ou baixar os índices de audiência."

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